quinta-feira, 22 de outubro de 2009

FLÁVIO MOREIRA DA COSTA

“Marginais, bandidos, solidários e solitários”

Está saindo pela Editora Agir a segunda edição do livro de contos de Flávio Moreira da Costa “Nem todo canário é belga”, publicado inicialmente em 1998 e ganhador de um prêmio Jabuti.
Flávio, que já tem cerca de vinte livros publicados, também lançou recentemente um romance novo, “Alma de Gato”, o seu sétimo.
De alguns anos para cá, Flávio faz antologias de contos de todos os tipos para a editora Ediouro, numa atividade intensa que poucos, estou certa, seriam capazes de realizar e que já resultou num grande número de livros bem vendidos.
Na introdução de “Nem todo canário é belga”, Flávio escreve:
“...Estas são histórias de gente sem história. Ms também, ou sobretudo, prática literária e exercícios de imaginação e linguagem. Neste sentido, não seria exagero dizer que os contos de ‘Nem todo canário...’ resultam numa galeria de personagens em movimento, cada qual vivendo sua própria trajetória: gente comum, tipos exóticos e estranhos (mas exóticos e estranhos do ponto de vista de quem?), marginais, bandidos, solitários e solidários, amantes e amados. Além disso, diversas são as modalidades – formas, estruturas, linguagens com que experimentei aqui a história curta. Nada de intencional, ou premeditado.”
E ele me deu uma pequena entrevista.

SC: Flávio, conte pra nós como é esse seu livro "Alma-de-gato".

FMC: “Alma-de-gato” fecha a Trilogia de Aldara, uma trilogia meio inusitada, mas trilogia, em torno de João do Silêncio, um autor que viveu afastado de tudo, inclusive de seu país, em silêncio, mas sempre escrevendo (nunca publicando) e deixando seus rastros de palavras pelo mundo. O primeiro livro da trilogia é o romance “O país dos ponteiros desencontrados”; o segundo, com uma “poesia escondida”, “Livramento”; e o terceiro é este “Alma -de –gato”, uma reconstituição biográfica do que teria sido sua vida. Resulta de uma falsa biografia de um personagem inexistente. Talvez não seja um livro para a tendência atual do mercado, mas foi divertido escrevê-lo. Virginia Woolf, ainda nos anos 30, dizia que era preciso se inventar uma outra palavra para designar o gênero romance, pois, já então, “cabia tudo no romance”. A expressão “pós-moderno” está muito desgastada: “Alma-de-gato” é um pós-romance.

SC: Flávio, você passa muito tempo na França, um país que, como você diz, adora. Por que?

FM: É uma história longa, que compreende vivência e conquista. Vem desde os anos 60, quando morei por lá, exilado (a temporada resultou em “As armas e os barões”) e segue até hoje. Fiquei uns quinze anos sem poder voltar. Hoje, quando posso, vivo alguns meses por lá. Não é turismo. Descobri que a França é um dos poucos lugares/cidades onde me sinto bem. (A outra é ...Livramento.)

SC: Você tem uma ligação com as artes visuais já há alguns anos. Poucos sabem, mas você é pintor, não é?

FMC: Não me considero pintor. Eu pinto. Não é uma aproximação acadêmica, a que tenho com as artes plásticas. É afetiva e me remete à minha infância, quando via minha avó, que foi uma grande pintora portuguesa (ela foi uma das primeiras a falar em Monet e cia., aqui, ainda no começo do século XX). Toda vez em que eu ia visitá-la no Grande Hotel de Porto Alegre lá estava ela pintando, com seu cavalete. Pinto porque procuro a não-palavra, para descansar do meu ofício.

SC: Como é que anda, a seu ver, a literatura brasileira, agora? Houve uma queda de prestígio dos escritores, como dizem alguns? Ou é o contrário?

FMC: Eu acompanho o que está acontecendo; mas não a ponto de me desviar do meu caminho. Tem gente de talento, mas, ainda em seus primeiros livros, fica difícil saber para onde, ou até onde vão. Há outros descobrindo a roda, e achando que a literatura começou com John Fante e Bukowski. E, no geral, não distinguem literatura de vida literária e acabam fazendo muito barulho por (quase) nada. Ligia Fagundes Telles diz que nós, escritores, somos como o mico-leão: uma espécie em extinção. Mas sempre haverá sobreviventes. Alguma coisa acontece, a fila anda, la nave va.

Em sua mais recente viagem à França, Flávio foi a Giverny, a linda propriedade onde morava Monet. Ele tirou algumas fotos lá, e reproduzimos uma.

EDITORA 7 LETRAS DE CASA NOVA

Jorge Viveiros de Castro
A 7 Letras, que funcionava em salas no Jardim Botânico, agora está numa casa mesmo, muito simpática e numa rua de nome inspirador, em Botafogo: a Goethe. O número da casa também tem um toque de magia – é o 54, cuja soma dá nove, o número de Iansã.
A nova sede ainda não foi inaugurada “oficialmente,” mas isto deverá acontecer, com uma grande festa, em dezembro.
Fui à casa nova visitar meu amigo, o editor Jorge Viveiros de Castro, que conheço há mais de vinte anos. Jorge está feliz e orgulhoso com o novo endereço, naquele lugar que nem parece do Rio – só tem casas mesmo.
A casa da 7 Letras é azul e com três andares.

O escritório de Jorge fica no terceiro, com direito a vista para dentro da copa de uma mangueira, como se estivéssemos na Índia ou na Bahia.
Depois de um papo rápido no escritório, fomos para o novo estúdio de gravação da 7 Letras, chiquérrimo, com vários instrumentos que revelam o passado do editor, que participava de uma banda de rock em seus tempos de universitário na PUC.
Nesse estúdio, a 7 Letras está começando a produzir CDs de poesia falada, ou “audiolivros.”
O primeiro é do premiado “Lampadário”, de Denise Emmer, poemas acompanhados ao violoncelo pela autora, também violoncelista, e por Hudson Lima.
Essa coleção de CDs terá o selo “Lado 7”.
Enquanto tomávamos um café, em seguida, na sala para visitantes (que tem uma mesa muito bonita, feita com fragmentos de muitos tipos diferentes de madeira), Jorge me contou também que está em produção o próximo número, o 18, da revista de contos “Ficções”.
Há um convite para que sejam enviados contos com pseudônimos, que serão julgados por pessoas também usando pseudônimos.
Os trabalhos que obtiverem avaliações melhores sairão na revista. A coordenação da revista ficou com Júlio Silveira.
E a “Ficções” vem em duas versões, on-line e impressa. Para conferir, acesse: http://www.revistaficcoes.com.br/
Outra novidade da 7 Letras é que está em preparo um livro novo de poemas de Carlito Azevedo, com o título “Monograma.”
Entre outras coisas, Carlito é o editor da revista de poesia “Inimigo Rumor,” que tem selo conjunto da 7 Letras e Cosac Naify.
No fim da nossa conversa, Jorge fez a revelação: está escrevendo um romance policial!
A ficção dele, até o momento, tem sido delicadíssima, com textos que ficam entre o miniconto e o poema em prosa.
Jorge na bateria
Mas Jorge é também autor de um livro infantil falando de futebol, com uma linguagem bem fluente, a que usa agora, para escrever seu policial.
A 7 Letras publicou dois livros de contos inéditos meus, “Mil olhos de uma rosa” e “Ovelha Negra e Amiga Loura” e reeditou outros: “Nascimento de uma mulher,” “Uma certa felicidade,” “Os venenos de Lucrécia”, “O último verão de Copacabana”, além da novela “O jogo de Ifá.”
Tudo em edições muito bonitas e criativas, com um toque artesanal.
Esses livros podem ser adquiridos através do site da 7 Letras: http://www.7letras.com.br/

HERTA MÜLLER

O NOBEL MAIS
DO QUE MERECIDO

Por Dinu Flamand

Um genial ato de justiça, a atribuição do Nobel de Literatura, este ano! Herta Müller traz à luz, em plena atualidade, uma dessas “províncias” do sofrimento que os comentaristas políticos, midiáticos, literários, têm, com demasiada freqüência, a tendência a deixar passar em silêncio.
A família de Herta sofreu duras provas, que a jovem estudante de Letras começou bem cedo a colocar no papel.
Suas perguntas perturbavam, sua intransigência em conhecer a história já chamava a atenção da famosa Securitate, a polícia secreta romena.
Ela questionava também, como nós outros, da mesma geração, os sofrimentos, a ausência de liberdade, a falta de esperança, a sufocação da vida cotidiana, na Romênia dos anos 70-80, que soçobrava sob uma ditadura medíocre.
Herta era “minoritária”, fator agravante. Escrevia em alemão, veículo lingüístico potencialmente perigoso, sendo susceptível de contradizer a linha oficial.
A censura política massacrou seu primeiro livro. Ela teve a audácia de passar o manuscrito para a Alemanha Ocidental, onde foi publicado sem cortes.
Na época, não o li, mas sei que o livro não tinha nenhum elemento político que pudesse ameaçar o sistema. Era, simplesmente, mais verdadeiro do que muitos outros, não convencional, escrito já com a franqueza que se tornaria a marca registrada dessa mulher teimosa.
A informação sobre as misérias cedo infligidas a Herta nos chegou muito depressa, em Bucareste.
Eu estava em estreito contato com alguns poetas de Timisoara, que haviam constituído o famoso “Grupo de Ação de Banat” – uma denominação aparentemente revolucionária, mas cujos membros não faziam nada além de poesia: muito irônica, é verdade, bastante sarcástica.
A vida se tornou para eles ainda mais infernal do que para nós, os romenos. A maioria dos alemães do Banat (onde Herta vivia com sua família), na parte oeste da Transilvânia, conheceria, nos anos 50, o exílio forçado para as terras áridas da planície do Danúbio. Também em direção ao Gulag soviético.
Herta e seu marido de então, o poeta Richard Wagner, não queriam expatriar-se, mas terminaram partindo para a Alemanha. Os expatriados se sentiam marcados por um certo desprezo, ao chegarem lá: eram os “romenos”!
O clima era de inadaptação. Um amigo nosso, Werner Bossert, suicidou-se.
Agora, em suas entrevistas, Herta evoca esse dilaceramento – o de viver perpetuamente entre duas pátrias. Não causa surpresa que ela tivesse continuado sempre, em seus livros, com sua admirável investigação desse seu universo obsessivo, mesmo que isto resultasse na exclusão do seu nome das listas de best-sellers e dos catálogos de literatura amena. E alguns “estetas” torceram o nariz para ela.
Mas era uma dívida que Herta precisava pagar. E Günther Grass sempre a admirou!

O poeta, tradutor e jornalista romeno Dinu Flamand, 62, nasceu na Transilvânia e pediu asilo político na França durante a ditadura de Nicolae Ceausescu. Com vários livros de poesia publicados e prêmios recebidos como poeta e tradutor, Dinu hoje mora em Paris, onde trabalha para a Radio France Internationale.

Herta Muller, 56, nasceu em Nichtdorf, no distrito de Timis, no Banat, parte oeste da Transilvânia. Em sua aldeia natal, a população, germânica, falava alemão. Herta estudou Letras na Universidade de Timsoara. Sua obra trata sempre das duras condições de vida sob a ditadura de Nicolae Ceausescu. No discurso de entrega do Nobel foi dito que Herta Müller “retratra, com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, o universo dos desapossados.” Há três livros dela em português: “O homem é um grande faisão sobre a terra,” “A terra das ameixas verdes” e “Compromisso”, lançado pela editora Globo em 2004.

MULHER E LITERATURA

Helena Parente Cunha Pois é, Herta Muller é a décima segunda mulher a ganhar um Nobel de Literatura. Não se pode deixar de pensar que houve outras 89 premiações e os vencedores foram sempre homens... Voltam à pauta as indagações torno de mulher e literatura.
Quem fala muito nisso é a premiada baiana Helena Parente Cunha, autora de vários livros de contos, poesias e romances, entre os quais o “Mulher no espelho”, traduzido e publicado na Alemanha e nos Estados Unidos.
Literatura de autoria feminina é um assunto de que Helena tem se ocupado constantemente.
Eu lhe fiz algumas perguntas a respeito.

SC: Num período em que havia muitas restrições à atividade intelectual das mulheres, você iniciou seus estudos de Letras, empenhou-se no exercício do magistério, primeiro na Bahia e depois no Rio, e desenvolveu uma produção literária consistente e reconhecida. Gostaria que você falasse dessa trajetória, contando, num resumo, as maiores dificuldades que enfrentou e também as maiores recompensas que obteve.

HPC: Quanto à minha atividade de professora, iniciada em meados dos anos 50, na Bahia, tenho a dizer que, após tanto tempo, continuo a dar aulas na Pós-Graduação em Letras da UFRJ e, como sempre, me sinto muitíssimo gratificada em manter esse contato renovador. Ensinar é também uma forma de aprender e muitas vezes de criar duradouros laços de amizade. Tenho grandes amigos que foram meus alunos, há muitos anos. Enquanto não tive dificuldades para iniciar o trabalho no magistério, levei muitos anos para publicar meu primeiro livro, tais eram os obstáculos do mercado editorial e de minha timidez. Mas depois de haver conseguido saltar esta barreira, não posso me queixar. São muitas as recompensas. Minha obra em prosa e verso tem sido estudada nos cursos de Letras do país e mesmo do exterior, através de monografias, dissertações, teses, trabalhos em congressos, participações em antologias. Minha fortuna crítica inclui várias publicações. Como escritora, a maior alegria que tive foi no "Seminário Helena Parente Cunha" (maio de 2009) em três dias inesquecíveis de apresentações de estudos sobre minha obra literária, na Academia de Letras da Bahia, associada ao Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual da Bahia em Feira de Santana e outras instituições. No magistério, além das constantes manifestações de apreço de meus alunos e alunas, recebi o maior título da carreira universitária, sou Professora Emérita (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

SC: Acha que ainda há obstáculos maiores para uma mulher do que para um homem, no exercício da atividade de escrever?

HPC: Hoje, acredito que não mais. Os inúmeros obstáculos são relativos à publicação dos livros, tanto para homens, quanto para mulheres. Entretanto, no que se refere ao reconhecimento da obra, vejo discriminação. Dou como exemplo, as listas que mencionam os melhores romancistas contemporâneos, ou contistas ou poetas, em que geralmente as mulheres saem perdendo. Não sei o que você, escritora reconhecida, pensa sobre esta questão. Apesar disso, o panorama hoje é bem diverso do que foi, digamos, no século XIX no Brasil, basta lembrar que não se tinha conhecimento das centenas de escritoras atuantes e descobertas nas ultimíssimas décadas, graças ao empenho de pesquisadores(as) dos cursos de Letras.

SC: Sei que você está muito ligada ao grupo "Mulher e literatura", que promove, em diferentes cidades, encontros de professoras universitárias para falar da produção literária de autoria feminina.
Quais são os objetivos desse grupo? Você acha que foram, ou estão sendo atingidos? Pensa que a atividade do grupo tem alcançado uma proporção desejável de escritoras brasileiras?

HPC: O Grupo existe desde os anos 80 e, ao lado de muitos outros grupos, pertence à ANPOLL (Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Lingüística). Vejo entre os participantes desse Grupo um empenho definido em valorizar a literatura de autoria feminina que só começou a ter mais visibilidade a partir dos anos 60 do século XX. O Grupo não é constituído só de professoras, há também os professores, embora em menor número, além de alunas e alunos da Pós-Graduação. O encontro deste ano foi em setembro, na cidade de Natal, contando com quase mil participantes. Entre as várias mesas- redondas, uma foi dedicada ao estudo de Aline Paim, escritora residente em Sergipe e esquecida ou ignorada. Vimos e ouvimos a entrevista emocionante que ela concedeu, do alto de seus noventa anos.Várias escritoras do século XIX saíram do esquecimento, graças ao empenho de membros desse Grupo. Coordenei com trabalhos de dez pós-graduandos, um livro dedicado a dez mulheres recém-descobertas, corajosas pioneiras daquele período, em que a discriminação atingia níveis revoltantes: Maria Firmina dos Reis, Maria Benedita Bormann, Francisca Clotilde, Narcisa Amália, Emília Freitas, Adelaide de Castro Alves e outras, entre as quais várias abolicionistas e republicanas. Muitos dos livros daquelas centenas de escritoras foram reeditados e estudados e transformados em teses, dissertações, comunicações em congressos. Agora você poderá me perguntar: e as escritoras contemporâneas? Claro que sim, inclusive você.

SC: O que você acha da cobertura mídia à atuação
dos escritores brasileiros e, em particular, das escritoras?

HPC: Vou responder através de minha experiência pessoal. Nos anos 80 e parte dos 90, quando um livro meu era enviado para os suplementos literários do Rio e de São Paulo, eu sempre tive resenhas ou artigos. Hoje, que sou mais conhecida e reconhecida, não recebo uma nota sequer desses jornais que antes me acolheram tão bem.


REVOLUÇÃO E POESIA

EAV Parque Lage
Por Sonia Coutinho
Desde meados dos anos 90, sou uma assídua freqüentadora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Mesmo num período em que deixei de ir a qualquer outra parte continuei firme indo àquele lugar maravilhoso e mágico. Aproveitando sempre para bater um papo com o fantasma da cantora lírica Gabriela Bezansoni Lage, para quem o casarão foi construído, por seu marido milionário, Henrique Lage. Gabriela continua a passear em torno da piscina, cantando...
Talvez muita gente não saiba, mas já pintei muito na EAV, entusiasticamente. No começo, derramava no chão baldes de água misturada com tinta, ao usar um borrifador de jardim sobre as telas já manchadas, realizando verdadeiras performances, sob o comando competente de Luiz Ernesto. Mais tarde, Chico Cunha me ensinou a fazer figuras.
O resultado mais lisonjeiro dessa atuação é uma tela minha que o escritor e crítico Silviano Santiago tem em sua sala até hoje e que já foi fotografada e publicada, em entrevistas dele.
Aos poucos, fui deixando a prática da pintura (pelo menos, no momento, embora acredite que haverá recaída) e reencontrei uma vocação antiga e funda, que está predominando - a de interessada em arte, ou estudiosa de arte.
Garota, quando morei uma temporada em Madri, estudava História da Arte no Instituto de Cultura Hispânica. Na EAV, já viajei com Charles Watson para Londres e Madri, visitando museus e ateliês de artistas, e vi seus vídeos contemporâneos.
Passei ainda por Pedro França (História da Arte) e, meteoricamente, por Guilherme Bueno (Arte Brasileira – eu voltarei, Guilherme). Agora, estou com Fernando Cocchiarale, estudando Estética. Durante todo esse período, de uns quinze anos interrompidos freqüentando os cursos da EAV, não encontrei nenhum escritor por lá. Até que, não faz muito tempo, fui a uma exposição sobre os inícios da Escola, vi uma imensa fotografia de Armando Freitas Filho, com bigodes imensos – e, na saída, deparei-me com o Poeta em pessoa.

Armando Freitas Filho

Aproveitei, então, para lhe perguntar o que eu não sabia: qual foi, Armando, ou qual é, sua relação com a EAV, com o Parque Lage?
E ele respondeu:
- Minha relação com o Parque Lage começou quando Rubens Gerchman criou a Escola de Artes Visuais. A sigla EAV, talvez por ser um anagrama de ave, levantou vôo, solta por Rubens nos jardins do Parque, e este foi alto, radical e transformador.
O palacete de gosto duvidoso dos Lage e o magnífico parque que o rodeia sofreu uma verdadeira revolução. Não somente a pintura mais contemporânea ganhou seu espaço privilegiado, mas o cinema, o teatro, a literatura, a música, e o que mais pintasse.

Rubens Gerchman


Rubens e eu fomos colegas de colégio, nos conhecemos em 1958, e desde aquela época, os primeiros quadros dele e meus primeiros poemas eram comentados por um e por outro, antes que a tinta do pincel e da caneta tivessem secado. Ele fez seis capas de livros meus e eu algumas apresentações para exposições suas. Além disso, elaboramos dois livros de arte juntos: Mademoiselle Furta-Cor e Dupla identidade. As litogravuras originais de Rubens do primeiro foram todas impressas nas horas vagas da prensa da oficina de gravura do Parque Lage, por MBia Medeiros e Wanderley Candido de Oliveira.
O ano era de 1977, a repressão ainda prendia e censurava. Um belo dia chegou aos nossos ouvidos que um almirante, - provavelmente a seco, que jamais conheceu o mar das batalhas nem o das missões relevantes, mas apenas o mar... de almirante das promoções burocráticas, e que fazia parte de um conselho de amigos ou coisa que o valha, do antigo Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro, que tinha deixado de existir com a criação da Escola, - vivia dizendo para seus pares, que o diretor da EAV estava imprimindo "nos porões do Parque", pornografia, já que os poemas e as gravuras tinham um cunho erótico. De fato, tinham, mas e daí? O boato ou o almirante de araque não prosperaram e a nossa Mademoiselle escapou ilesa e hoje está presente, vivíssima, no ensaio, de Renan Nuernberger, Poro por poro: o erotismo na poesia de Armando Freitas Filho, no seu relatório de iniciação científica a ser apresentado na USP.
Em 1978, junto com o também saudoso e querido amigo Roberto Maia, professor de fotografia da Escola, lançamos, no próprio Parque Lage, A flor da pele, um tablóide, com fotos dele e texto meu, onde se mostrava e se falava abertamente sobre a tortura, ainda vigente, naqueles anos. Este trabalho foi objeto da dissertação de mestrado de Mariana Quadros Pinheiro, Na fenda dos dias: leituras a partir de algumas datas na obra de Armando Freitas Filho, defendida, no começo do corrente ano, na UFRJ.

Gabriela Bezansoni Lage
Rubens iria gostar de saber dos trabalhos desses jovens, frutos, mais de 30 anos depois, do seu Jardim da Oposição, que a exposição montada por Heloisa Buarque de Hollanda e Helio Eichbauer, tão bem apresenta em seus múltiplos caminhos e paisagens. Iria gostar, também, de ouvir meu poema "Cidade Maravilhosa" feito para o livro sobre sua obra, publicado pela Funarte em meados dos 70, ser lido por Paulo José no DVD realizado por Tiago Rios na graduação deste, em cinema, pela PUC-RJ.
Tanto aqui foi dito daquela época e das nossas "tabelinhas". Mas não foi dito tudo, não foi dito nem um pouco da falta que eu sinto do meu amigo de adolescência, da nossa amizade de 50 anos, que perdurou, operante, pela vida afora e das nossas conversas, até os seus últimos dias. Por isso mesmo, minha relação com o Parque Lage atual tem que ser, obrigatoriamente, de saudade e de lembranças vivas.

TRÊS TIROS

Conto de Sonia Coutinho

Essa história ainda não está pronta. Mas, se você insiste, eu conto. O que já escrevi? Veja, há um personagem, Pablo, que fala de si mesmo. E há Joana, que ainda estou criando.
Já sei que Joana nasceu e viveu, até os vinte e tantos anos, numa cidade do interior. Aos 20, casou-se com um fazendeiro; mas, não muito tempo depois, abandonou-o.
Segundo diziam, porque ele a espancava.
Joana fugiu com outro homem, um publicitário do Rio, e foi morar, em Copacabana.
Ela era inteligente, lia muito e escrevia bem. Então seu amigo arranjou-lhe um emprego como jornalista. Naquele tempo era mais fácil, não exigiam diploma.
Anos depois, quando o publicitário já a deixara, Joana foi demitida do jornal. Ficou um bom tempo desempregada, vivendo de algumas reservas de dinheiro, mas que foram acabando.
De repente, alguém lhe telefona e oferece trabalho num jornal da sua própria cidade. Mesmo contra sua vontade, Joana aceita.
Mas, em sua cidade, sente-se cercada de ódio e tem medo. Pensa: será que foi atraída para lá por alguém com intenção ruim?
Um dia, recebe um telefonema de Pablo, antigo colega do jornal do Rio, que está em visita à sua cidade - e marcam um encontro.

- Vim para te salvar, Joana, para te levar daqui. Estou captando uma aura estranha em torno de você. Não entendo como aceitou voltar – diz Pablo.
Joana se limita a sorrir, sem responder, sentada diante dele à mesa de uma cantina italiana.
Ela observa Pablo com carinho, lembrando aqueles primeiros meses seus de jornalismo no Rio, quando os dois eram colegas.
Ela fazia matérias para o suplemento feminino dos domingos e ele, alguns anos mais novo, uma espécie de garoto prodígio que vivia citando Artaud, era crítico de teatro. Agora, como ele explica, está na cidade para participar de um seminário de teatro na Universidade, tinha virado professor.
O garoto prodígio, ela observa, transformou-se num homem quase maduro, usando uma camisa esporte não tão informal quanto as de antigamente.
Pablo, uma vida embutida na sua, sim, uma outra vida que talvez ela pudesse ter vivido junto.
Conclui, meio espantada, que sua vida já é composta por muitas outras, que se superpõem, formando um labirinto de episódios e situações quase esquecidas, mas que às vezes vêm à tona.
O garçom traz os canelones, eles começam a comer e Joana pensa nas poucas vezes em que foi para a cama com Pablo, sem grandes prazeres. Na verdade, já parece que aconteceu há séculos.
Ela o amou por causa da vivacidade dele, daquele clima de rebeldia e loucura que o cercava.
Mas logo se apaixonou por outro colega de redação – e, não demorou muito, como num passe de mágica, os dois homens mudaram de jornal e se afastaram dela.
Pablo foi para São Paulo. Desde então, Joana o vira talvez apenas cinco ou seis vezes, mas sempre se falaram no mesmo tom, como se não houvesse nenhum ressentimento da parte dele, como se nada tivessem mudado e continuassem grandes amigos - o que são mesmo, ela conclui, agora.
Num relance, Joana lembra as notícias que teve de Pablo, durante o período em que ficaram sem contato. Houve um intervalo longo sem ela saber de nada, e então alguém lhe disse que ele se casara com uma moça judia muito rica, Liuba.
Outras notícias foram chegando, como a de que eles tinham tido um filho.
Mais adiante, uma informação chocante: o casal estava envolvido com um movimento de guerrilha urbana e estavam presos.
Comendo seu canelone, Pablo conta agora que o envolvimento de Liuba com a guerrilha era maior do que o seu. Ela foi muito torturada e teve de se submeter a uma cirurgia de emergência.
Quando foram soltos, o casamento entrou numa fase ruim, acabaram separando-se.
Um período difícil, diz Pablo, havia uma criança no meio daquilo tudo, o filho deles, que ficou com os pais dela. Eles ajudavam a contragosto, com muitas críticas e lamentações.
Foi um período em que Pablo, como ele conta, estava angustiado e desesperado como nunca em sua vida. E então “aconteceu”, diz, com voz mais baixa.
- Nessa ocasião, conheci um rapaz. Um rapaz muito bonito, com uma personalidade inquietante. Uma pessoa, como é que posso explicar? Uma pessoa intensa, autêntica. Começamos a nos encontrar todo dia, ele freqüentava o pequeno apartamento que aluguei depois de me separar de Liuba. Um dia, entrou em meu quarto, aparentemente de forma casual, e fui atrás dele, nós dois conversando. De repente, ele se deitou em minha cama e estendeu a mão para mim. Eu me apaixonei por ele. Era meu primeiro relacionamento desse tipo, nunca tinha vivido nada parecido.
Pablo continua a falar, diz agora que, na Universidade onde foi ensinar teatro, ele e o amigo eram aceitos como um casal. Mas a vida dos dois era cheia de altos e baixos.
Um dia tiveram uma briga feia e o amigo jogou o carro onde estavam dentro de uma vala. Mas as machucaduras não foram graves e o relacionamento deles continuou. Pablo lembra:
- Eu era feliz, naquele tempo. Mas, um dia, pouco depois do acidente com o carro, ele começou a procurar outros. Aquilo me fazia sofrer, eu queria apenas ele. Continuei ligado nele, sofrendo.
Pablo conta que o amigo buscava cada vez mais “intensidade”, tinha experiências sexuais sucessivas, fazia sexo até em mictórios públicos.
De repente Pablo informa, em tom neutro:
- Ele acabou pegando Aids. Comecei a perceber que a saúde dele não ia bem porque tinha pequenas doenças uma atrás da outra. Aquilo não parava e então a idéia me bateu como um relâmpago. Disse a ele que devia fazer um teste. Ele fez - e o resultado deu positivo.
Joana e Pablo terminam de almoçar, mas continuam sentados à mesa. Agora, ele fala com uma voz mais lenta, cheia de uma tristeza seca.
- Uma manhã, ele ficou muito tempo ao sol. De noite, estava com uma febre altíssima. Era meningite. Não se levantou mais da cama, foi hospitalizado. Perto do fim, ficou cego. Uma tarde, pediu um prato de comida, queria um cabrito assado, de que gostava muito. Eu e a irmã dele, que o acompanhava no hospital, telefonamos para um restaurante. O cabrito chegou e ele comeu tudo, com o maior apetite. Pouco depois, morreu. Na hora, não tive coragem de chegar perto. Fiquei olhando de longe, da porta do quarto.
Tomando agora um café, Pablo diz que isso aconteceu há dois anos – e, desde então, ele não teve mais coragem de fazer sexo. Já se submeteu a vários testes de Aids, todos deram negativos. Mas, mesmo assim, não tem coragem.
Ele fica calado por algum tempo e, depois, pergunta, sorrindo:
- Você não quer saber, como todo mundo, se prefiro homem ou mulher?
- Não, sei que você próprio não sabe – Joana responde, sorrindo.
Pagam a conta, saem do restaurante, caminham até a enseada do Porto, que fica perto, e se debruçam na amurada. Olham em silêncio o mar tranqüilo, os saveiros ancorados. Joana diz:
- Acho que você, sua vida inteira, de certa forma procurou a pureza.
Ele dá uma gargalhada.
- Tem razão. É a pureza que procuro. Digamos, uma pureza como a de Jean Genet.
Joana caminha com Pablo até o apartamento dela, que fica próximo.
Os dois se sentam no chão.
Depois, ele se deita e põe a cabeça no colo dela.
Ficam uma porção de tempo calados, Joana passando a mão nos cabelos dele.
Pablo repete:
- Vim para te salvar, tirar você daqui. Volte comigo para o Rio. Fique em meu apartamento, procuraremos outro emprego para você.
Mas ela sacode a cabeça, é um não.
Pouco depois, Pablo se levanta e diz que vai embora. Antes que ele saia, Joana fala:
- Somos namorados outra vez. Namorados distantes, infiéis, cada qual para seu lado. Mas namorados, mesmo assim.
Ele a beija nas duas faces, garante que vai telefonar e escrever sempre. Mas, depois que Pablo sai, Joana tem uma repentina certeza de que ele nunca mandará nada.
E, se mandar, ela não responderá nunca.

Joana continuou na cidade, mas com um medo cada vez maior. E tinha razão. Não demorou e ela foi assassinada com três tiros no peito.
Não sei ainda quem a matou.
Terá sido um colega do jornal da cidade, com quem ela estava namorando e que enlouqueceu? E então a matou nua, na cama do seu apartamento, usando um travesseiro em cima do cano da arma, para abafar o ruído dos tiros?
Ou foi um capanga do seu ultrajado ex-marido fazendeiro que, passando numa moto, disparou os tiros contra Joana, que dirigia seu carro?
Não adianta insistir mais, eu não sei. Esse final, ainda vou ter de inventar.

CADERNO DE POESIA



ARMANDO FREITAS FILHO



Batismo

Banho simétrico, quadriculado
evitando lavar as partes
tudo o que o primeiro cheiro úmido
de mulher molhou: a cara, o sabor
de fruta pisada, o perfume fundo
de adubo, o punhado do sexo, a placa
na mão e na alma, a ponta
do dedo médio, e o que ficou
grudado nos cabelos – sal, soro, suor
goma, gosto de cola, chuva e choro.

Um dia depois do outro

Esta página expirou.
Não deu para ficar tudo claro.
Trabalho com preto e branco
em meio a sono e súbito
misturado à noite da terra.
Apodreço, alerta
a cabeça alta, no sol.
O tempo pula, agulha
perceptível, nos ponteiros
dos relógios da casa incansável
cercada do dia que nasce
em alumínio severo.

Em casa

A mesa da madrugada está posta.
Quase: ainda no esboço. Faltam dois copos
uma xícara, todas as facas e colheres.
Quem a pôs assim parou: sono, falência
desânimo. Talvez durma também inter-
rompida no linho do sonho, lá em cima.

O escuro comeu uma perna, um braço e
meio, deixou intacto o tronco, um pouco
do rosto. Na toalha da copa, no lençol
do quarto, a noite parou para o dia vir
tentando completar o trabalho e o corpo:
todo dia seguinte é a morte e a manhã.

Estes poemas fazem parte do livro “Lar,”, de Armando Freitas Filho, lançado este ano pela Companhia das Letras.


DINU FLAMAND


Tradução Sonia Coutinho



Sacada

Exercício respiratório – pelo maior tempo possível
reter a adiada erupção de ar
com a florescência de lilases num ramo
que se estendeu dentro de você.

preguiçosa polinização
no horizonte
visto
por cima dos gerânios na sacada
onde levita o mistério do vento

o mar

continua a ovular na direção
de nuvens assexuadas

céu de uma cor irreversível

melancolia como uma súbita ereção
no centro da vida
tarde.

N.T. Em romeno, a palavra “mar” é feminina.


Aprisionado

Ela chega com um cheiro de pele quente
da cama
de outro

tira um sol com erva do seu cabelo
e estende a mão
entre seus dedos a água toma a forma de um copo
ela envia para as profundezas a emoção de um beijo esquecido.

Uma felicidade amuralhada a protege do sono
como uma fortaleza
ela está impregnada por uma densa fosforescência
intangível
enquanto pulsa em minha direção
de uma insuportavelmente próxima
distância
onde me afogo em anos luz de encargos.

Eu abriria de repente o meu peito para recebê-la já
bem dentro do meu silêncio
ruidoso
nos verdes cumes de Abril

mas nenhuma das minhas palavras a toca
e espero
aprisionado no latido do eco inútil
que me repete.


Vinho derramado

Enquanto eu acho procurando você acha achando
uma fenda na fibra do tempo, para ali nos escondermos desta cidade onde não é bom
ser o intruso universal, no fim do milênio.

Mal você me abandona e a vejo chegar,
com migração de pedras roladas por nuvens
em estradas que antigamente também nos trouxeram, no centro das suas margens.

Estou cansado da sua solidão, que não pode
ser curada nem mesmo engolida por minha
canibal solidão;
como você permanece em distância próxima,
parece vinho derramado, mas impedido
de cair pela luva de sombra da minha mão...

N.T. Estes poemas foram traduzidos a partir da tradução para o inglês feita por Olga Dunca. Houve também consultas ao original romeno, com o uso de dicionário, e uma constante colaboração do autor, por e-mail.


LUCINDA PERSONA



Notícia mínima

Coisa nenhuma se esconde à vida
E nem se esconde ao poder da língua
a notícia mínima.

Um ovo levemente frito está no prato
a ponto de ser um sonho, elemento perfeito,
mantimento ativo

E tudo se reduz ao velho e justo termo:
o que vive sem sonhos, vivendo, está morto.

Abrindo vagens

Não será extravagância
(à beira da pia)
rever a vida
através do legume
que já está morto?

Ó inutilidade
Por amor do teu nome
suavizo labores
Poemas nunca serão demais
Haverá sempre o lugar certo
para cada um e suas palavras
como se não houvesse erro
e a alegria fosse possível
Nada se faz no mundo
sem que haja motivo
Quem chora entre um minuto e outro
abrindo o ventre das vagens
para a vida o faz.

Estes poemas fazem parte do novo livro de Lucinda Persona , “Tempo comum,” lançado este ano pela 7 Letras.


ARRIETE VILELA


Poema 26

Montas o laço
da armadilha tão clara
e calmamente sob os meus pés
que me ofereço, inclusive, para te ajudar
no remate ao nó.

Em docilidade, permito que tires
todas as exatas medidas dos meus passos,
para que eu não os dê muito rígidos
em direção ao inevitável vazio,
às devastadoras não-referências.

É assim que deve ser,
pois se trata de libertação:
tu me preparas a armadilha,
e eu te ajudo no requinte do laço.

Desse modo, dificilmente saberemos
quem feriu a ética dessa paixão
e a fez sangrar para que doesse sempre,
sempre e sempre, como uma maldição.

(Do livro “Palavras em travessia”)
Arriete Vilela é alagoana e mora em Maceió. Professora de Letras, publicou os livros de contos “Maria flor”; “Tardios afetos”;” Grande baú, a infância” e de poemas “A rede do anjo”; “Vadios afetos”; “O ócio dos anjos ignorados”, entre outros. Em 2005, saiu seu primeiro romance, “Lãs ao vento”, que recebeu o Prêmio Lúcia Aizim, da União Brasileira de Escritores do Rio. Em 2008, o livro “Ávidas paixões, áridos amores” ganhou o Prêmio Marly de Oliveira, também da UBE.