segunda-feira, 25 de maio de 2009

RUY E CYRO

RUY ÀS VOLTAS COM VAMPIROS

O consagrado e prolífico poeta baiano Ruy Espinheira Filho parece que, ultimamente, está mais para romancista. Em 2007, ele publicou “Um rio corre para a lua.” Ano passado, veio com “De paixões e de vampiros” (Bertrand Brasil), do qual transcrevemos aqui um capítulo.
Ruy é um excelente bate-papo, uma pessoa de excelente astral e sempre otimista com relação à literatura brasileira. Recentemente, em Salvador, tive o prazer de conversar com Ruy no mezanino da Livraria Civilização Brasileira, no Shopping Barra – onde trabalha o filho do histórico livreiro baiano Sr. Demerval, o Álvaro, que às vezes aderiu ao papo.
Ruy teve sobre seu “Vampiros”, palavras elogiosas de Jaguar e Wilson Martins, que também aí vão.


“De paixões e de vampiros”
Capítulo 36

UM CONVITE, VAMPIRO ETC

Alguns dias depois do comício, Juvenal passara a tarde na biblioteca, só aparecendo na Redação quase no fim do expediente. Ao vê-lo, logo percebi que havia enfrentado alguns conhaques, sua bebida predileta.
- Tem algum compromisso para esta noite? – perguntou-me.
Eu não tinha.
Então, vamos a uma festa. Aniversário de uma amiga minha. Nos encontraremos às oito no Crystal, certo?
- Certo.
Terminei minha matéria, fui para a pensão, tomei um banho, jantei. Seu Amphilophio perguntou-me como ia a “experiência” no jornal. Considerava Juvenal Andrade um tipo um tanto, como disse, heterodoxo, mas sem dúvida inteligente, de valor. Uma espécie de paria, sem família, com certos hábitos discutíveis – mas, se eu seguisse apenas os seus bons exemplos...
Dona Clotilde estava aérea e saiu logo da mesa. Vi-a entrar na despensa e, em seguida, rumar para o sótão, carregando latinhas, garrafinhas, uma escova e panos. Philinho teria um belo banho naquela noite.
Como eu estava indo a uma festa, tinha que vestir o que possuía de melhor. Enquanto trocava de roupa, Luís Virgem chegou.
- Vai aonde, todo enfeitado assim?
Falei da festa. Disse-me que, mesmo não convidado, iria comigo, se não tivesse um compromisso no Coliseu.
- Que compromisso?
- Vamos discutir a criação do Centro de Vampirologia.
- Ora – sorri-, pensei que fosse alguma coisa séria...
- Mas é claro que é uma coisa séria, Magro! – reagiu ele, indignado.
- Sabe o que eu acho? – falei. – Que você está ficando de miolo mole...
- E eu – disse ele – acho que você, que vai andar por aí à noite, deve é ter muito cuidado... Quando menos se espera, olha os dentes do vampiro no pescoço!
- Quanta bobagem...
Ele assumiu um ar grave:
- Sem brincadeira – disse. – Estamos estudando os vampiros pra valer. Eu até indiquei o seu nome para participar do Centro.
- Obrigado, mas estou sem tempo. Bom, já vou indo... Dê lembranças minhas ao Conde Drácula.
- Talvez você o encontre antes de mim – respondeu ele, soturno.


Palavras de Jaguar sobre De paixões e de vampiros: uma história do tempo da Era, de Ruy Espinheira Filho (Bertrand Brasil, 2008):
... romance pequeno com nome grande (...) Dei uma lida no ônibus, quando ia pro jornal. Quando desci já tinha lido um terço do livro; o resto li à noite. O relato me pegou pelo pé, só parei no final, coisa que muito prêmio Nobel não conseguiu de mim.
O que posso dizer é que o Ruy consegue fazer a coisa mais difícil que tem em literatura: escrever com simplicidade sobre essa coisa complicadíssima que é a vida. Pouquíssimos conseguiram isso. Machado de Assis, por exemplo.
Ruy conta histórias, digamos assim, com uma requintada singeleza. Escreve para o leitor. Não estou fazendo gracinha nem querendo dar uma de Conselheiro Acácio. A maioria dos escritores que conheço escreve olhando para o próprio umbigo.

DE UMA CRÍTICA DE WILSON MARTINS:

Com sua "história do tempo da era" (De paixões e de vampiros), Ruy Espinheira Filho acrescenta uma pequena obra-prima à linhagem da Vila dos Confins (...) É uma sátira, sem dúvida, mas sátira, estamos vendo, que pouco difere da realidade real, como diria Eça de Queiroz, mestre da ironia, família em que Ruy Espinheira Filho agora assegura o seu lugar. Jornal do Brasil (05/07/2008)


CYRO DE MATTOS, DIRETOR

O poeta e ficcionista Cyro de Mattos é o novo diretor da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania. A entidade está a mil e tem um site: http://www.ficc.com.br/ que merece ser visitado. Como nasci lá, eles estão me fazendo uma homenagem.

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