segunda-feira, 27 de julho de 2009

CARLOS HENRIQUE SCHROEDER

Carlos Henrique Schroeder

O catarinense Carlos Henrique Schroeder, crítico literário , escritor e editor (Design Editora e Editora da Casa), já publicou oito livros, entre contos, romances e poesia. Os mais recentes são “A rosa verde”, Edusfc, e “Ensaio do vazio”, 7 Letras, 2006. No lançamento deste segundo livro, no Rio, um evento coletivo da editora, foi que o conheci. Há pouco tempo, C.H.S. me surpreendeu com esta crônica (saiu em “A Notícia”, jornal para o qual ele escreve semanalmente) sobre meu livro de contos “Uma certa felicidade,” reeditado pela 7 Letras. Obrigada, Carlos.

MULHERES

O relançamento de “Uma certa felicidade”, de Sonia Coutinho, no ano passado, acendeu novamente a ânsia de encontrarmos um verdadeiro olhar feminino na literatura. Publicado originalmente em 1976 e reeditado em 1994, a terceira edição conta com uma revisão feita pela autora e com a inclusão do conto inédito “O que fizeram com Zizi.” São oito contos que mostram casamentos infelizes, solidão, sonhos segregação familiar e o fim das utopias amorosas.
Algumas personagens se movimentam em cidades invisíveis, outras no Rio de Janeiro de manhãs altaneiras. O olhar apurado de Sonia está presente em todos os vértices, pois acredito que no Brasil poucas escritoras possuam sua potência de, com frases desconcertantes, conseguir desconstruir qualquer estereótipo feminino. Em “Uma certa felicidade,” as personagens de Sonia são egoístas, frustradas e enrustidas. Em 2007, fiz uma entrevista exclusiva com a autora, para o “AnexoIdeias”, e vimos que ela sempre esteve muito bem acompanhada: Clarice Lispector, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, Marguerite Duras, Lygia Fagundes Telles, entre muitas outras. Se a formação de leitora foi exemplar, sua inquietação também.
“Descobri que queria ser escritora ainda menina. Meu pai era poeta e tínhamos muitos livros em casa. Eu era uma menina calada, introvertida, que adorava ler. Passei de um salto dos livros infantis para os livros adultos. E meus primeiros contos foram as redações das aulas de português, no ginásio. Um pouco adiante, fiz amizades com escritores e jornalistas de Salvador e publiquei pela primeira vez um conto num suplemento cultural local aos 19 anos.”
“Acho que, nesse início, eu poderia dizer que fui incentivada por esses amigos. Mas, como minhas histórias sempre foram desafiadoras, também me senti incomodada com críticas pessoais e certo tipo de preconceito, isto mais no círculo dos amigos da minha família, quando ainda morava na Bahia. Em certa medida, acho que isso ainda continua a acontecer por lá.”
Baiana de Itabuna, mas radicada desde 1968 no Rio de Janeiro, Sonia é um caso ímpar na literatura brasileira: seu livro de contos “Ovelha Negra e Amiga Loura” recebeu o Prêmio Clarice Lispector, da Biblioteca Nacional, como melhor livro de contos publicado em 2006.
Em 1979, Sonia levou o Prêmio Jabuti com seu livro de contos “Os venenos de Lucrecia”, feito que repetiu 20 anos depois com o romance “Os seios de Pandora.” Em 1983, a autora participou do International Writing Program, em Iowa (EUA) e foi escritora-residente na Universidade do Texas, em 1998. Seus trabalhos foram publicados em antologias no Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Holanda, México, Canadá e Polônia.
Em sua obra, Sonia examina principalmente a mulher urbana de classe média e suas relações com a contemporaneidade, as relações de gênero, o descobrir e o entardecer da sexualidade e o envelhecimento como fenômeno sociológico e biológico. Nos dias de hoje , ler Sonia Coutinho é um verdadeiro manual de sobrevivência, em que mulheres podem se reconhecer e homens conhecerem um pouco mais do assombroso e deslumbrante universo feminino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário