Nelson Rodrigues por José Louzeiro
Fuad Atala
O maranhense José Louzeiro, radicado no Rio de Janeiro desde a década de 1950, está lançando “Vestido de Noivo”, uma alegoria em torno de “Vestido de noiva”, a polêmica peça de Nelson Rodrigues, que montada pela primeira vez em 1943 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro provocou um verdadeiro escândalo.
Em sua estréia como autor de teatro, Louzeiro transpõe com precisão para o palco a técnica que adquiriu no exercício da reportagem policial, gênero que cultivou por mais de 20 anos. Tendo freqüentado as melhores redações da época de ouro da imprensa carioca, e por curto período a paulistana, mergulhou fundo na questão da violência urbana e das desigualdades sociais. Suas reportagens polêmicas ocuparam-se quase que obsessivamente do cotidiano miserável e violento dos morros cariocas, com seus guetos de exclusão social e seus heróis-bandidos assombrando a população local e a parte luminosa da cidade a seus pés.
Louzeiro projetou-se não apenas na crônica policial, onde deixou em memoráveis reportagens sua marca de repórter de faro aguçado. Com a bagagem vivenciada na cobertura do submundo do crime, Louzeiro fez uma vitoriosa incursão pela literatura, onde estreou em 1958 com o volume de contos “Depois da luta”.
Era o ponta-pé inicial de uma obra sui generis, que inauguraria entre nós o romance-reportagem. Entre seus mais de 50 livros publicados, alguns foram parar no cinema, como “Infância dos mortos, de que resultou o filme “Pixote”, “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia”, escrito a partir de uma audaciosa entrevista com o personagem que dominou a cena policial carioca e da qual se originou o filme com título homônimo.
Ainda na área policial, seguem-se “Aracelli, meu amor”, “O caso Cláudia” e “O homem da capa preta”, entre outros. Não escaparam também às suas preocupações a violência policial e o horror que fluía dos porões da ditadura. O drama da estilista Zuzu Angel e de seu filho Stuart Angel, torturado e morto na década de 1960, “Em carne viva”, e o massacre dos meninos da Candelária, em 1993, em “Praça das dores”, marcam essa fase.
No cinema assinou vários roteiros, alguns dos quais, baseados em obras suas, ganharam o gosto popular. De sua lavra saíram ainda algumas biografias, como a de Elza Soares, André Rebouças, Ana Néri e Gregório Fortunato, o “anjo negro” de Getúlio Vargas, além de obras voltadas para o público infanto-juvenil.
Em “Vestido de noivo” Louzeiro reúne personagens reais com os quais conviveu nas redações, inclusive Nelson Rodrigues, ele próprio o foco para onde converge o centro da trama, criando a partir daí uma ficção digna do seu inspirador. Lá estão os repórteres João Ribeiro, Pinheiro Júnior e Antonio Carbone, entre outros personagens no clima nervoso da redação, enfrentando o delegado Rescala Bittar e o detetive Perpétuo de Freitas na busca frenética de notícias.
Na elaboração da trama Louzeiro capta toda a atmosfera rodriguesiana, utilizando com propriedade a técnica e os motes do discurso do teatrólogo. A história gira em torno do suicídio da jovem Marlizinha, motivo de uma crônica de Nelson, a quem a mãe da vítima procura na redação no dia seguinte para repor a verdade – não havia morte naquela história. Estabelece-se a partir daí um diálogo que mistura transcendentalidade, non sense e sado-masoquismo.
O cronista tenta provar o contrário, mostrando à mãe aflita que, com aquele gesto, a suicida (ou quase) decidira integrar “o panteão das deusas”. Para ele, Marlizinha teve a ousadia de desafiar o que o ser humano mais teme, a morte. “Na minha crônica, explica ele à mulher, tudo o que faço é exaltar sua menina, cuja coragem foge à compreensão da maioria dos mortais”. Era suicídio, e pronto.
Aqui está José Louzeiro, em sua melhor forma de romancista-repórter, recriando com palavras próprias o mais genuíno Nelson Rodrigues. “Vestido de noivo”, Nelson passeia pela redação esparzindo seus deliciosos cacoetes e inconfundíveis idiossincrasias.
O maranhense José Louzeiro, radicado no Rio de Janeiro desde a década de 1950, está lançando “Vestido de Noivo”, uma alegoria em torno de “Vestido de noiva”, a polêmica peça de Nelson Rodrigues, que montada pela primeira vez em 1943 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro provocou um verdadeiro escândalo.
Em sua estréia como autor de teatro, Louzeiro transpõe com precisão para o palco a técnica que adquiriu no exercício da reportagem policial, gênero que cultivou por mais de 20 anos. Tendo freqüentado as melhores redações da época de ouro da imprensa carioca, e por curto período a paulistana, mergulhou fundo na questão da violência urbana e das desigualdades sociais. Suas reportagens polêmicas ocuparam-se quase que obsessivamente do cotidiano miserável e violento dos morros cariocas, com seus guetos de exclusão social e seus heróis-bandidos assombrando a população local e a parte luminosa da cidade a seus pés.
Louzeiro projetou-se não apenas na crônica policial, onde deixou em memoráveis reportagens sua marca de repórter de faro aguçado. Com a bagagem vivenciada na cobertura do submundo do crime, Louzeiro fez uma vitoriosa incursão pela literatura, onde estreou em 1958 com o volume de contos “Depois da luta”.
Era o ponta-pé inicial de uma obra sui generis, que inauguraria entre nós o romance-reportagem. Entre seus mais de 50 livros publicados, alguns foram parar no cinema, como “Infância dos mortos, de que resultou o filme “Pixote”, “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia”, escrito a partir de uma audaciosa entrevista com o personagem que dominou a cena policial carioca e da qual se originou o filme com título homônimo.
Ainda na área policial, seguem-se “Aracelli, meu amor”, “O caso Cláudia” e “O homem da capa preta”, entre outros. Não escaparam também às suas preocupações a violência policial e o horror que fluía dos porões da ditadura. O drama da estilista Zuzu Angel e de seu filho Stuart Angel, torturado e morto na década de 1960, “Em carne viva”, e o massacre dos meninos da Candelária, em 1993, em “Praça das dores”, marcam essa fase.
No cinema assinou vários roteiros, alguns dos quais, baseados em obras suas, ganharam o gosto popular. De sua lavra saíram ainda algumas biografias, como a de Elza Soares, André Rebouças, Ana Néri e Gregório Fortunato, o “anjo negro” de Getúlio Vargas, além de obras voltadas para o público infanto-juvenil.
Em “Vestido de noivo” Louzeiro reúne personagens reais com os quais conviveu nas redações, inclusive Nelson Rodrigues, ele próprio o foco para onde converge o centro da trama, criando a partir daí uma ficção digna do seu inspirador. Lá estão os repórteres João Ribeiro, Pinheiro Júnior e Antonio Carbone, entre outros personagens no clima nervoso da redação, enfrentando o delegado Rescala Bittar e o detetive Perpétuo de Freitas na busca frenética de notícias.
Na elaboração da trama Louzeiro capta toda a atmosfera rodriguesiana, utilizando com propriedade a técnica e os motes do discurso do teatrólogo. A história gira em torno do suicídio da jovem Marlizinha, motivo de uma crônica de Nelson, a quem a mãe da vítima procura na redação no dia seguinte para repor a verdade – não havia morte naquela história. Estabelece-se a partir daí um diálogo que mistura transcendentalidade, non sense e sado-masoquismo.
O cronista tenta provar o contrário, mostrando à mãe aflita que, com aquele gesto, a suicida (ou quase) decidira integrar “o panteão das deusas”. Para ele, Marlizinha teve a ousadia de desafiar o que o ser humano mais teme, a morte. “Na minha crônica, explica ele à mulher, tudo o que faço é exaltar sua menina, cuja coragem foge à compreensão da maioria dos mortais”. Era suicídio, e pronto.
Aqui está José Louzeiro, em sua melhor forma de romancista-repórter, recriando com palavras próprias o mais genuíno Nelson Rodrigues. “Vestido de noivo”, Nelson passeia pela redação esparzindo seus deliciosos cacoetes e inconfundíveis idiossincrasias.
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