ASSOBIO VOCÊ
Caixa preta
furo preto
parecia experiência de colégio
algo como “a lâmpada acende
se amarrar os fios” ou “o feijão
nasce no algodão” parei
ao escutar a vibração
das experiências sonoras
contidas em oito
caixotes de dois metros
de alto-falantes
em círculo claustrofóbico
convidando a mexer
as partes do corpo
que melhor estalam
e continuam a estalar
cada vez mais baixo no infinito pretume
ruído
ruído
a mandíbula
a língua
o dente
a garganta
a glote
a direção do vento
o lábio superior e inferior
assobio você
do corredor o círculo
preto de dois metros falantes
ocupam seu espaço ao chão
octogonal corrompem a visão
o corpo estica-se ao encontro
gigante postura em vale árido
duas caixas se distanciam de acordo
sugerindo passagem ao corpo
alongamento de vértebras
conversam.
KRILL PARA HEITOR
Nessa manhã meio-cinza, meio-clara
leio sua mensagem e penso nas noites de sua cidade
(só lembro das noites
Os dias passam rápido demais
Ou escuros ou mesmo iguais aos de minha cidade)
mas as noites não
elas se preparam se vestem de preto purpurina
e todos tremem à sua espera sua boca enorme
não há pessoa alheia os que dormem
sentem um comichão e rezam ave-marias para suportar
aqui passamos as manhãs imprimindo krill
treze páginas mais treze páginas
olhamos a tinta olhamos a foto, de novo
café, bolo ana-maria, pão-de-queijo
é o que nos alimenta
você chama o correio
mas ele ainda dorme (não sabe que há manhãs)
mas eu te digo, heitor:
aqui passamos as manhãs imprimindo krill
à noite teremos ele na estante
distante como se houvesse chegado pelo correio
e você ao passar suas folhas e sentir sua cor
lembrará das manhãs da minha cidade.
AO SOM DO VINIL
“Não acredito que te perdi”
cochichou perdendo a faixa
da música que deveria colocar
para as pessoas não escutarem
o que gritava tentando cochichar
ao ouvido da garota que se despedia
e que pensou escutar
“não acredito que te perdi”
mas não pediu para ele repetir
pois já tinha ouvido o ruído da faixa
terminando e ele afastando-se
para posicionar a agulha em qualquer
outro círculo e assim ninguém
reparar na garota que ali permanecia
na tentativa de ir embora.
+++
Caixa preta
furo preto
parecia experiência de colégio
algo como “a lâmpada acende
se amarrar os fios” ou “o feijão
nasce no algodão” parei
ao escutar a vibração
das experiências sonoras
contidas em oito
caixotes de dois metros
de alto-falantes
em círculo claustrofóbico
convidando a mexer
as partes do corpo
que melhor estalam
e continuam a estalar
cada vez mais baixo no infinito pretume
ruído
ruído
a mandíbula
a língua
o dente
a garganta
a glote
a direção do vento
o lábio superior e inferior
assobio você
do corredor o círculo
preto de dois metros falantes
ocupam seu espaço ao chão
octogonal corrompem a visão
o corpo estica-se ao encontro
gigante postura em vale árido
duas caixas se distanciam de acordo
sugerindo passagem ao corpo
alongamento de vértebras
conversam.
KRILL PARA HEITOR
Nessa manhã meio-cinza, meio-clara
leio sua mensagem e penso nas noites de sua cidade
(só lembro das noites
Os dias passam rápido demais
Ou escuros ou mesmo iguais aos de minha cidade)
mas as noites não
elas se preparam se vestem de preto purpurina
e todos tremem à sua espera sua boca enorme
não há pessoa alheia os que dormem
sentem um comichão e rezam ave-marias para suportar
aqui passamos as manhãs imprimindo krill
treze páginas mais treze páginas
olhamos a tinta olhamos a foto, de novo
café, bolo ana-maria, pão-de-queijo
é o que nos alimenta
você chama o correio
mas ele ainda dorme (não sabe que há manhãs)
mas eu te digo, heitor:
aqui passamos as manhãs imprimindo krill
à noite teremos ele na estante
distante como se houvesse chegado pelo correio
e você ao passar suas folhas e sentir sua cor
lembrará das manhãs da minha cidade.
AO SOM DO VINIL
“Não acredito que te perdi”
cochichou perdendo a faixa
da música que deveria colocar
para as pessoas não escutarem
o que gritava tentando cochichar
ao ouvido da garota que se despedia
e que pensou escutar
“não acredito que te perdi”
mas não pediu para ele repetir
pois já tinha ouvido o ruído da faixa
terminando e ele afastando-se
para posicionar a agulha em qualquer
outro círculo e assim ninguém
reparar na garota que ali permanecia
na tentativa de ir embora.
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Pegar a condução pagar a condução e sair para almoçar às doze horas algumas alfaces variadas carnes variadas e hoje sobremesa com o sol e a lua chegar a fim do dia com o telefone sem linha com a pele coçando com a cidade sem água passar pelo dia oito de abril e não achar estranho acordar com gritos no quarto vizinho meu filho acordar querendo dormr sair para o trabalho comas pernas dormentes a mão presa à xícara, a cara lavada pelo resto de água a boca sem dizer palavra a noite corre a lua sobe e pára. Passaram-se alguns anos e a mão ainda presa às coisas da manhã a meia de lã o pão preto com mel lentamente passando pelos lábios quentes da noite do café preto e todas as palavras que ainda não chegaram.
Valeska de Aguirre publicou o minilivro “Ela disse, Ele disse”, pela Moby-Dick, em 2001. Mas antes viajou pelo Ocidente e pelo Oriente, trabalhou como garçonete, caixa, modelo; casou algumas vezes; hoje, trabalha numa editora; tem marido e dois filhos. Estes poemas integram o livro “Atos de repetição”, da 7 Letras.
MARCIO ZARDO
TUDOSOBRENADA
NADASOBRENADA
NADASOBRETUDO
Valeska de Aguirre publicou o minilivro “Ela disse, Ele disse”, pela Moby-Dick, em 2001. Mas antes viajou pelo Ocidente e pelo Oriente, trabalhou como garçonete, caixa, modelo; casou algumas vezes; hoje, trabalha numa editora; tem marido e dois filhos. Estes poemas integram o livro “Atos de repetição”, da 7 Letras.
MARCIO ZARDO
TUDOSOBRENADA
NADASOBRENADA
NADASOBRETUDO
TUDOSOBRETUDO
Transcrevemos aqui as palavras de uma imagem criada por Marcio Zardo, na qual elas funcionam plasticamente, colocadas sobre um fundo colorido.
O resultado é um poema visual, como explica Marcio. Algo para ser colocado na parede, um “quadro”.
Marcio era um poeta ligado ao Concretismo mas, a certa altura, decidiu “materializar” seus poemas.
Passou para o lado das artes visuais.
Ele explica sua proposta:
- Interesso-me pela desconstrução das relações tradicionais da linguagem e da imagem, seja em poemas visuais, pequenos textos, frases soltas ou mesmo palavras.
Sempre busquei nas minhas experimentações enfatizar a materialidade da palavra, seus valores plásticos e sonoros.
Busco nas figuras de linguagem, na justaposição de significados, nas analogias ou na ambiguidade das palavras, surpreender o leitor/visitante e envolvê-lo na proposta.
Proponho um ato de criação conjunta onde o espectador deixa de ser contemplativo e torna-se explorador das possibilidades e probabilidades desencadeadas pelo trabalho.
Transcrevemos aqui as palavras de uma imagem criada por Marcio Zardo, na qual elas funcionam plasticamente, colocadas sobre um fundo colorido.
O resultado é um poema visual, como explica Marcio. Algo para ser colocado na parede, um “quadro”.
Marcio era um poeta ligado ao Concretismo mas, a certa altura, decidiu “materializar” seus poemas.
Passou para o lado das artes visuais.
Ele explica sua proposta:
- Interesso-me pela desconstrução das relações tradicionais da linguagem e da imagem, seja em poemas visuais, pequenos textos, frases soltas ou mesmo palavras.
Sempre busquei nas minhas experimentações enfatizar a materialidade da palavra, seus valores plásticos e sonoros.
Busco nas figuras de linguagem, na justaposição de significados, nas analogias ou na ambiguidade das palavras, surpreender o leitor/visitante e envolvê-lo na proposta.
Proponho um ato de criação conjunta onde o espectador deixa de ser contemplativo e torna-se explorador das possibilidades e probabilidades desencadeadas pelo trabalho.
Quem é Marcio Zardo
Artista plástico e jornalista nascido em Santa Catarina e radicado no Rio, atuou por mais de 20 anos em comunicação empresarial. Em 1999 passou a dedicar-se integralmente às artes plásticas.
Participou de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Realizou quatro exposições individuais, destacando: “Vida-te”, no Espaço Cultural Sérgio Porto (2003) e “APALAVRALAVRA”, no Solar da PUC/Rio (2007) e participou de mais de 20 coletivas, destacando: “Reactions”, no Exitart, em N.York (2002), “Projéteis de Arte Contemporânea”, Funarte(2003)e“OBRANOME II”, nas Cavalariças da EAV do Parque Lage (2009).
Artista plástico e jornalista nascido em Santa Catarina e radicado no Rio, atuou por mais de 20 anos em comunicação empresarial. Em 1999 passou a dedicar-se integralmente às artes plásticas.
Participou de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Realizou quatro exposições individuais, destacando: “Vida-te”, no Espaço Cultural Sérgio Porto (2003) e “APALAVRALAVRA”, no Solar da PUC/Rio (2007) e participou de mais de 20 coletivas, destacando: “Reactions”, no Exitart, em N.York (2002), “Projéteis de Arte Contemporânea”, Funarte(2003)e“OBRANOME II”, nas Cavalariças da EAV do Parque Lage (2009).
Olá Sonia querida !! Fiquei super feliz ao ver esses meus trabalhos tão gentilmente publicados no teu SIDARTA.Agradeço tua costumeira atenção !!
ResponderExcluirBjs afetuosos, Zardo