sexta-feira, 21 de outubro de 2011

KARINA RABINOVITZ

COM KARINA, A POESIA
TOMA AS RUAS DE SALVADOR
Entrevista de Karina Rabinovitz a Sonia Coutinho

Karina

As intervenções urbanas da artista e poeta Karina Rabinovitz andam mexendo com a cabeça dos baianos ainda pouco familiarizados com os procedimentos da arte contemporânea. Karina é jovem, mas já são longos os caminhos que percorreu, nas trilhas que levam da arte à poesia, ou vice-versa.
Sua publicação mais recente de poesia impressa na folha é o “livro do quase invisível”, que saiu em 2010 na coleção Cartas Bahianas, da editora P55.
Ela já havia publicado, em 2005, outro volume de poemas, “de tardinha meio azul”, pela editora infinito publicações (selo criado pela própria autora).
Mas, além dos livros tradicionais de poesia, Karina vem fazendo intervenções poéticas, videopoemas, intervenções urbanas, tudo em parceria com a artista visual Silvana Rezende. Seu trabalho pode ser acompanhado através do blog que ela edita, o sussurros, (www.karinarabinovitz.blogspot.com)
No momento, Karina está finalizando o projeto “um livro de água”, composto de poemas e videoarte. Ela dá oficinas da palavra e de vídeo na Oi Kabum – Escola de Arte e Tecnologia. E já recebeu vários prêmios.

SONIA - Descreva sua trajetória como artista-poeta.
KARINA - Não sei se há um ponto de partida, não saberia dizer qual o começo. É uma trajetória de muitos flashes de perplexidade com a palavra e certamente de um amor que já estava, antes de eu saber com a consciência.
A partir da consciência e da organização, poderia datar o ano de 2004. Comecei a me reunir com mais 3 amigos (Marlon Marcos, Paula Janaína e Silvana Rezende) com a idéia de criar uma editora nossa independente, para produzir e lançar nossas idéias artesanalmente, a infinito publicações. Fizemos 3 encontros – os primeiros passos pro infinito... Daí minha parceria com Silvana Rezende, que é artista visual, se consolidou e nós seguimos trabalhando juntas para a criação do meu primeiro livro “de tardinha meio azul”, que são poemas meus com ilustrações de Silvana e foi lançado em 2005, em Salvador. Nós começamos a trabalhar também com videopoesia a partir de poemas do livro. E o livro nos levou a participar de eventos (OffFlip – Festa Literária Internacional de Paraty, Bienal do Livro da Bahia, Poesia na Boca da Noite), nos quais começamos a inserir videoinstalações e intervenções poéticas.
A partir deste nosso trabalho em parceria, passamos a criar e realizar juntas, ações de intervenção urbana. Desde 2005 até hoje são diversas ações diferenciadas para deslocar a poesia do seu espaço habitual e fazê-la transitar pela rua. Colagem de fragmentos de poemas nos muros da cidade; caixinha de acrílico com bilhetes poéticos em pontos de ônibus; confetes de poesia e parangolé-poesia no carnaval; poemas bordados em vestidos ou em compotas de doces, em exposições de artes visuais; babadinhos de poesia, nos murais de cartazes de universidades, restaurantes e espaços culturais; lambe-lambe poesia, uma videoinstalação para praças públicas; entre outros.
Em fevereiro de 2009 criei meu blog (www.karinarabinovitz.blogspot.com) que é um inventário de minha poesia: as ações, poemas e outras coisas mais como canções e vídeos a partir dos poemas. Uma janela sempre aberta. Em 2010 lancei meu 2º livro de poemas “livro do quase invisível”, pelo selo Cartas Bahianas, da Editora P55, a convite de Claudius Portugal, editor do selo. O livro foi lançado em Salvador, pela editora, e em São Paulo e Rio de Janeiro, de maneira independente. Também em 2010 recebei o Prêmio Roquette Pinto (patrocínio da Petrobrás e apoio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura), para a realização do projeto "poesia eletrônica" (www.myspace.com/karinarabinovitz). Foram 72 programas de rádio-arte, nos quais trabalhei a poesia oralizada e sonorizada.


SONIA - Para chegar a esta fusão de gêneros, você partiu, digamos, de onde? Que artistas ou escritores a influenciaram?
KARINA - É que eu aprendi primeiro a ler poesia (antes mesmo de eu saber ler), nas coisas do mundo, nas coisas dos dias. Minha mãe me ensinou esta leitura. Ela me levava pra assistir o sol, ler os caminhos, contemplar belezas. Depois eu comecei a ver muita poesia na música, na dança, no cinema, no teatro. E fui passear por diversas linguagens artísticas, atuando e trabalhando.
A partir do momento que a palavra se tornou meu objeto predileto, o que me move é um desejo grande de ver e sentir a poesia no dia a dia, misturada com as coisas mais comuns da vida. Naturalmente trabalho com a idéia de escrever neste mundo contemporâneo, que quase “exige” mais agilidade na escrita e formatos diversos para se mostrar um poema. É este mundo contemporâneo que me estimula diariamente à fusão de gêneros na poesia.
Sobre as influências, a primeira delas é de meu irmão mais velho. Ele foi o primeiro poeta que conheci e foi vendo ele, que entendi que existia a possibilidade de ser artista, ser poeta.... Tenho muita influência dos poetas da música – Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zé Miguel Wisnik. As letras das músicas foram os primeiros poemas que tive acesso. E depois vieram Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Mario Quintana, Guimarães Rosa, Manoel de Barros. Hoje em dia ando visitando Paulo Leminski, Angélica Freitas, Carlito Azevedo, Narlan Mattos, Ricardo Domeneck, Alice Ruiz, Kátia Borges.
Outra grande influência no meu processo de construção pessoal foi a de Rogério Duarte. Tive o prazer de ser sua aluna, no meu último semestre na Ufba (Faculdade de Comunicação) e só em ir para as aulas dele e o ouvir falar sobre arte, sem dúvida transformou coisas em mim, que não daria pra explicar aqui com palavras e espaço restrito.
Especialmente em relação à fusão, minhas referências são Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Waly Salomão. Queria fazer as loucuras que Waly fazia! Mas como não sou tão explosiva assim, tento levar esta vibração para minhas intervenções poéticas, que são quase o avesso das ações de Waly, porque elas são mínimas e sutis, mas há uma mesma célula lá dentro, de desejo de sonho e um não-conformismo...

SONIA - O que você está produzindo, no momento?
KARINA - Em 2010, ganhei o edital de Apoio à Criação Literária da Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e estou escrevendo “um livro de água”, em parceria com Silvana Rezende. Eu escrevo as palavras e ela escreve as imagens. É um livro que deverá ter uma versão impressa e outra digital. Ainda estamos na fase de criação (devemos entregá-lo em setembro/2011), mas pretendemos que ele seja muito vivo em seu formato. “um livro de água” vai falar de um universo específico: ilha. Trabalhar metáforas que envolvem uma ilha e as questões de solidão, alcance do outro. Não por acaso trabalhar com esta metáfora de ilha ao escrever nestes tempos atuais, que cultivam a solidão, mesmo dizendo que não...
Além deste livro novo, estou trabalhando numa nova série de intervenções poéticas: o “poesia atravessada” (poemas em faixa de pedestres) e o móbile_poemas de rua.


SONIA - Você dá dedicação exclusiva à sua arte, ou trabalha em alguma outra coisa?
KARINA - Infelizmente não ganho o suficiente com a poesia... Trabalho atualmente como arte-educadora na Oi Kabum – escola de Arte e Tecnologia, ministrando Oficina da Palavra e tratando de questões sociais na Oficina de Vídeo.

SONIA - Quais são os seus planos e/ou projetos, agora?
KARINA - Meu plano mais próximo é editar e publicar “um livro de água”, quando ele ficar pronto.
Na lista dos planos também está: distribuir CDs com o meu “poesia eletrônica” para alguns institutos de cegos do país. E continuar brincando com as palavras até o (sem) fim.

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